Os avanços da Medicina Fetal
A gravidez é uma experiência única. Mas, para que tudo ocorra bem, é fundamental tomar vários cuidados durante este período. Nos último anos, essa atenção tem contado cada vez mais com a ajuda da medicina. Tanto é que uma das áreas com maior velocidade de aprimoramento é a Medicina Fetal, ciência que estuda a fisiologia do desenvolvimento do feto, malformações e os distúrbios congênitos, bem como o diagnóstico e o tratamento dessas enfermidades, é uma área com profissionais que se dedicam a cuidar do bebê ainda antes do nascimento.
Isso é possível graças ao avanço dos exames de diagnóstico por imagem, que conseguem detectar grande parte das anormalidades que podem ocorrer durante a formação do bebê. E, se for necessário, os especialistas realizam cirurgias de correção quando a criança ainda está no útero, com um procedimento endoscópico chamado fetoscopia, por exemplo.
“Diagnosticar e tratar problemas ainda intra-útero é de extrema importância. Muitas doenças hoje são passíveis de tratamento antes do nascimento, isso tem repercussão ao longo de toda a vida da pessoa”, diz o médico Marcílio Leite , especialista em Medicina Fetal.
“Nos dias atuais, estamos preocupados em melhorar a qualidade de vida das pessoas e esse cuidado começa antes do nascimento”, completa a médica Suzane Campos, também especialista na área.
Na década de 1980, a qualidade de imagem dos aparelhos de ultrassonografia era extremamente precária. Havia muita dificuldade em diagnosticar algum problema fetal. No início dos anos 90, foi possível estudar a fisiologia do desenvolvimento fetal. Iniciou-se, então, uma nova era em termos de rastreamento de anomalias cromossômicas e genéticas. A avaliação da vitalidade fetal tomou corpo e passou a fazer parte fundamental e integrada das maternidades de alto risco. O estudo do coração fetal também apresentou grande desenvolvimento nos últimos anos, segundo explicam os médicos.
O carro chefe da medicina fetal é a ultrassonografia. Existe um calendário básico dos exames de ultrassom que em cada idade gestacional é possível diagnosticar a normalidade ou não do feto de acordo com o período de desenvolvimento. Por volta de 12 semanas, por exemplo, é feito um exame chamado de ultrassom morfológico de primeiro trimestre com doppler. “Através deste exame conseguimos diagnosticar a maioria dos problemas estruturais do feto, conseguimos inclusive fazer um cálculo de risco para as principais doenças genéticas como a síndrome de Down, e também conseguimos estimar a chance da paciente apresentar uma doença hipertensiva no final da gestação, inclusive com possibilidade de prevenção ou minimizar as complicações desta doença”, explica Dra. Suzane Campos.
Tratamentos em Medicina Fetal
Nos casos de diagnóstico de alguma anormalidade, as estratégias de tratamento são variáveis. Há situações que requerem um simples acompanhamento. Em outras, recorre-se a procedimentos mais complexos. O que se sabe é que muitas anomalias congênitas são graves, com alta taxa de mortalidade perinatal, e precisam de intervenções intra-útero ou neonatais imediatas. Há necessidade de profundo conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos de cada distúrbio fetal.
“As arritmias cardíacas fetais quando não tratadas rapidamente podem ter consequências graves, inclusive podendo levar ao óbito. A anemia fetal por incompatibilidade entre o sangue da mãe e do feto, se não for corrigida com transfusões intrauterinas sucessivas, quase sempre leva ao óbito”, alerta Marcílio Leite. Muitas doenças maternas também repercutem na saúde do feto e só o especialista em medicina fetal é capaz de apontar o problema. Ele também pode indicar o melhor momento para o obstetra fazer o parto de modo que a saúde do feto seja preservada.
Os especialistas respondem
A medicina já sabe que nascer antes da hora não é a melhor coisa a acontecer. O ideal é que o parto ocorra após a 37ª semana da gestação, quando os órgãos do bebê estão bem formados. Mas, para isso acontecer, é preciso que a mãe e o bebê tenham segurança. Saiba como isso é possível.
Os cuidados devem começar antes da gestação. Que cuidados são esses? Dr. Marcílio Leite e Dra. Suzane Campos – “Atualmente falamos em pré-natal de 12 meses, os três meses que antecedem a gestação são fundamentais para o sucesso da gravidez. Antes da concepção o casal deve procurar o obstetra pra fazer uma consulta e uma bateria de exames para verificar as condições de saúde dos mesmos. É necessário ajustar as taxas glicêmicas em caso de diabetes, as pacientes que tem algum distúrbio na tireoide também precisam regularizar suas taxas hormonais antes da gravidez, visto que uma mulher que engravida com uma dessas doenças sem um adequado controle hormonal ou glicêmico pode levar a altas taxas de abortamento ou malformações fetais graves, por exemplo. A suplementação de ácido fólico antes da concepção, também reduz significativamente os defeitos abertos do tubo neural, por isso é que aconselhamos uma consulta com o obstetra tão logo o casal manifeste o desejo de ter um filho, para receber as orientações devidas”.
Matéria publicada originalmente na Revista NB Plus, Ano VII, Maio de 2015, No. 69, página 59. Leia a Revista NB Plus #69 aqui.