Aneurisma da veia de Galeno na ultrassonografia obstétrica com doppler
O aneurisma da veia de Galeno é uma malformação vascular congênita cerebral, rara, caracterizada pela dilatação do precursor embrionário da veia de Galeno. Esta é uma patologia que se manifesta desde a vida intrauterina e, como nós veremos logo abaixo, pode ser diagnosticada precocemente através do exame de ultrassom.
A veia de Galeno, também chamada de veia cerebral magna, é a veia mais importante do sistema venoso profundo que compõe a rede de veias do cérebro.
No aneurisma da veia de Galeno, o sangue das artérias cerebrais é desviado para uma veia dilatada de Galeno, aumentando o fluxo de sangue total o que, por sua vez, aumenta o trabalho do coração, podendo resultar numa insuficiência cardíaca de alto débito.
O diagnóstico pré-natal pode ser aventado a partir da 14ª semana de gestação, e é realizado através da ultrassonografia com o auxílio da dopplerfluxometria colorida (ultrassom com doppler), que demonstra o fluxo turbulento no interior da imagem cística presente no polo cefálico fetal (interior da cabeça).
As Figuras 1 a 3 ilustram o aneurisma da veia de Galeno. Na Figura 1, evidenciamos a imagem cística isolada em polo cefálico fetal, enquanto nas Figuras 2 e 3 temos a mesma imagem com o recurso da dopplerfluxometria colorida (doppler colorido), demonstrando a origem vascular (venosa) da lesão.
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A ventriculomegalia secundária (dilatação dos ventrículos cerebrais) pode estar presente, assim como hidrocefalia e oligoâmnio (diminuição do líquido amniótico).
Como o aneurisma da veia de Galeno provoca um desvio do fluxo sanguíneo, algumas alterações cardíacas fetais como a elevação da frequência cardíaca fetal (>200 bpm), extrassístoles supraventriculares, insuficiência tricúspide e hiperpulsatilidade arterial dos vasos do polígono de Willis podem ser encontradas caracterizando um quadro de insuficiência cardíaca de alto débito.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com cisto aracnóide e com cisto porencefálico, contudo estes não apresentam fluxo ao exame Doppler (no aneurisma da veia de Galeno, a dopplerfluxometria colorida confirma a etiologia vascular da lesão).
A ecocardiografia fetal pode auxiliar na detecção dos sinais precoces de insuficiência cardíaca de alto débito e a Ressonância Nuclear Magnética auxilia na avaliação dessas lesões, pois define a localização da fístula, os componentes arteriais, o saco aneurismático venoso, bem como o estado da drenagem venosa.
Até o momento, o parto prematuro não tem demonstrado melhora dos resultados neonatais.
O tratamento do aneurisma no recém-nascido dependerá do tamanho do mesmo e da apresentação clínica, sendo a insuficiência cardíaca uma indicação para embolização. Os aneurismas pequenos e com fluxo baixo podem evoluir para trombose espontânea (sem necessidade de intervenção terapêutica).
Os pacientes com sintomatologia neurológica e cardíaca devem submeter-se a tratamento intervencionista (tratamento endovascular), uma vez que a embolização pode aumentar a perfusão cerebral e melhorar os resultados clínicos. Quando o aneurisma encontra-se estável, a embolização da malformação deve ser realizada em torno de cinco meses após o nascimento.
O prognóstico neonatal é pobre na presença de insuficiência cardíaca ou lesões cerebrais antes do nascimento.